Quem sou eu

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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal é Legal!


Os Natais de minha infância não foram, exatamente, os mais interessantes. Juntar, em uma mesma festa, vários membros dispersos de uma família italiana [do meu pai] não poderia mesmo dar muito certo. Era uma confusão só. Eu só gostava quando minha mãe fugia da festa e seguia para a cidadezinha de minha avó – um minúsculo município do interior de Minas Gerais onde eu tomava banho de rio, comia os peixes do mesmo rio e me divertia com os causos contados pelos mineiros mais velhos.

O sucesso do natal era mesmo minha avó. Hoje sei que ela nem era tão velha, mas na época eu achava que ela era velhíssima; a mais velha das velhas. Por isso, achava o máximo quando ela corria atrás de mim, me levava para pescar, fazer compras, me ensinava como utilizar o tradicional fogão movido à lenha e a “pescar” água no rio para lavar o quintal. Não entendia como uma mulher tão velha conseguia fazer todas aquelas coisas, mas mesmo assim eu adorava.

Minha avó morreu após o meu décimo segundo aniversário. Depois disso, na adolescência, passei a achar o natal um saco. O radicalismo juvenil me fazia ver o Natal como uma festa burguesa, desigual, chata, falsa, careta, hipócrita... coisas da adolescência. O fato é que o natal me deixava triste e eu não sabia exatamente por quais motivos. Essa fase durou pouco. Logo, logo, passei a gostar dos Natais organizados pelos meus tios e tias mineiros. 

Depois... fiquei velho. Ainda não virei o mais velho dos velhos (por enquanto! Embora desconfie que meus dois pequenos sobrinhos me vejam assim. Tio Rodrigo é um homem grande e velho!). Atualmente, na minha condição de Velho, adoro o Natal. Faço uma festa e tanto, com comida, bebida, presentes... tudo bem careta. Isso tudo é muito bom, mas o melhor é saber que nossos familiares e amigos são nossos familiares e nossos amigos. É para isso que serve o Natal.

Termino esta postagem com a mesma mensagem que enviei aos meus alunos. No natal, "cantem sua música, dancem sua dança, contem sua história [até aqui é do McCourt], [daqui para frente é meu mesmo] amem seus amores, comam suas comidas, vivam com seus amigos e continuem aprendendo o que quiserem aprender [esse finalzinho para os alunos era bem diferente].

Abraços Natalinos para todos.  

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Janele, Lou Reed e as fronteiras das cidades


Lou Reed dispensa comentários sobre suas habilidades musicais. Deus para alguns, Demônio para outros, navega pelas ondas das rádios de todo o mundo com suas letras repletas de ironias e sarcasmos que só poderiam ser produzidos por uma mente atormentada e um fígado opilado.

Não ignoro suas habilidades musicais, mas me interesso mais pelo toque literário presente em suas letras. Ele já foi chamado de poeta das esquinas de Nova York, mas eu preferiria chamá-lo de cronista das entranhas da metrópole e, quiça, das metrópoles.

Qualquer autor interessado em antropologia urbana deveria observar os versos de “Walk on the Wild Side”. Ela fala de personagens urbanos, vivendo suas existências nas fronteiras. Sexo, drogas, comportamentos desviantes compõem o cenário desta canção embalada pelas garotas que cantam “doo do doo do doo do do doo...”.

É curioso pensar nos motivos que levam estes personagens de fronteira a fazer tanto sucesso. Também é curioso elucubrar sobre os movimentos que fazem com que as grandes cidades cosmopolitas sejam espaços de confluência para estas existências reprimíveis em outros contextos.

Hoje ouvi “Walk on the Wild Side” e lembrei de uma história que permite lançar algumas hipóteses sobre as questões propostas. Trata-se de um caso clínico analisado por um professor em uma aula de psicologia da educação. Faz tempo que esta aula aconteceu, mas o caso é muito bom para pensar as fronteiras e as grandes cidades.  Não direi, é claro, o nome do analista e da paciente, mas garanto que é tudo verdade. Chamarei a paciente de Janele.

Janele vivia em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, uma cidade daquelas compostas pela praça, o coreto, a igreja, a prefeitura e....só isso mesmo. Era considerada a maluca da cidade. Vira e mexe enfrentava algumas crises onde saía cantando pela cidade, bebendo, dançando e dando para todo mundo. Os rapazes gostavam, mas a família ficava completamente envergonhada e sem saber o que fazer. O médico da cidade a medicava com calmantes fortíssimos e a internava por alguns dias. Passado o internato, Jane voltava ao “normal” e reassumia sua posição de “louca da cidade”, mas agora controlada.

Quando terminou o ensino médio,  Janele veio para a Capital, residir com alguns parentes que viviam no Rio fazia tempo, e estudar na Universidade. Ocorre que logo no primeiro semestre ela enfrentou uma de suas “crises”. Começou a cantar pelos corredores da Universidade, dançar com seus colegas de turma e dar para quem quisesse. Ficou uma semana assim e nada aconteceu. Melhor dizendo:  Janele não tomou medicamentos, não foi internada, não foi nem mesmo criticada. Ao contrário, ficou super popular entre os colegas e a família disse que ela estava se adaptando muito bem ao Rio de Janeiro.

Janele não entendeu nada, mas voltou ao “normal” mesmo sem os medicamentos. Semanas depois, teve outra “crise” e fez tudo de novo. Ficou ainda mais popular. Era muito querida por todos e sua agenda social vivia lotada. Resultado:  Janele surtou!

No surto, segundo o analista, perdeu completamente o senso de realidade; não sabia onde estava, quem eram seus amigos, sua família. Não sabia nem mesmo quem era. Depois de algumas semanas internada, Jane voltou ao “normal”.

Não vou entrar na seara dos psicólogos. Pouco interessa saber se Jane tinha ou não algum problema psicológico. O mais interessante é observar como os mesmos comportamentos em cenários diferentes promovem hostilidade e aceitação. Em sua cidade era louca. No Rio de Janeiro era legal. Em sua cidade precisava de remédios e internação. No Rio de Janeiro precisava de badalação... Estas contradições fundiram a cabeça da menina e ela acabou surtando de verdade. Não sei, sinceramente, se os “surtos” que aconteceram na cidade natal eram surtos mesmo, mas minha mentalidade interiorana consegue compreender as atitudes de sua família. Compreender, não concordar!

Não conheci nenhuma “Janele ” em minha cidade natal. Quando cheguei com minha mentalidade interiorana ao Rio de Janeiro e encontrei várias “Janeles” fiquei surpreso, mas foi uma surpresa extremamente positiva. Afinal, garotas que cantam e dançam e... não fazem mal a ninguém. Fazem bem!

Lá na minha cidade diziam que a cidade grande era perigosa porque era um lugar onde se podia tudo. Não sei se é verdade, mas se pode bem mais por aqui do que por lá. Este mundo urbano, cosmopolita, cantado por Lou Reed e analisado por toda a antropologia urbana tem uma poética própria. É um lugar de confluência de “malucos” onde todos os “malucos” são bem vindos, mesmo aqueles que desejam ou preferem caminhar exclusivamente pelo lado selvagem.




sábado, 18 de agosto de 2012

Roberto Carlos, os homens e suas mulheres - dica de final de semana




Eu sempre escutei as músicas de Roberto Carlos. Sabia que era brega, mas minha mãe adorava. Ela nunca foi muito interessada em televisão, mas agia como uma leoa quando meu pai sugeria que ela deixasse de assistir ao especial de final de ano do “Rei”.

Eu achava engraçado porque meu pai provocava, dizia que iria desligar a televisão, e ela atacava afirmando que ele estava morrendo de ciúmes do “Rei”.

Esta novelinha doméstica, depois de alguns anos, me fez pensar nos motivos que transformavam Roberto Carlos na trilha sonora da vida de tantas pessoas. Afinal, minha mãe não era a única. Todas as amigas também adoravam o “Rei”. Era uma adoração diferente. A beleza nunca era citada porque o encanto estava na voz e nas músicas.  

Bem mais tarde, quando li o clássico da boêmia carioca “Noites Tropicais”, do Nelson Motta, percebi que ele malhava Roberto dizendo que o “Rei” imitava João Gilberto. Depois admitiu que acompanhou Roberto Carlos em alguns shows, cedeu aos seus encantos e pediu um autógrafo. Ainda disse que nunca tinha pedido autógrafo de ninguém, mas com o “Rei” era diferente.

Que poder é esse? Minha mãe não ignorava e cena musical da década de setenta e anteriores. Gostava da jovem guarda, ouvia os tropicalistas. Meu pai gostava e cantava os clássicos da década de 1930 até 1950. Mas ela gostava mesmo era do “Rei”.

Ontem recebi uma intimação de minha esposa. Nós vamos assistir “à beira do caminho”. O que fazer em uma hora dessas? Apenas dizer: claro, amor. Que ótimo!

Segui para o cinema um tanto quanto desanimado. Não tinha muitas expectativas com relação ao filme, mas fui com o coração aberto. Logo nos primeiros minutos o personagem principal, um caminhoneiro, se desfaz em lágrimas ao som de... Roberto Carlos. Incrível!!!

Nunca tinha pensado na força das letras emocionais do “Rei” para os homens, principalmente para homens no perfil “machão tradicional”. O filme segue ao som do Roberto e há muitos momentos emocionantes. Não digam a ela que contei, mas minha mulher chorou o tempo todo. Eu não chorei porque tenho que manter a minha fama de mau.

“À beira do caminho” é um filme que fala de emoções vividas por homens rústicos e machões. Não vou entrar em detalhes porque não sou crítico e nunca serei. Aliás, detesto críticos de cinema, música e literatura. Detesto alguns acadêmicos também, mas isso não vem ao caso. Quero apenas indicar a excelente performance de Vinicius Nascimento, jovem ator que contracena com João Miguel e Dira Paes. O garoto tem algumas tiradas excepcionais. Vai aprendendo a ser homem com o caminhoneiro João e, ao mesmo tempo, o ajuda a arrancar do peito a dor que guardava e que só era liberada, aos poucos, quando ouvia as primeiras estrofes de “Nossa Canção”:

Olhe aqui, preste atenção
Essa é a nossa canção
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer
O nosso amor
Nosso amor!...

O filme é, sem dúvida, minha dica para o final de semana. 

domingo, 29 de julho de 2012

Professor Josué, o “sofressor” e a profissão docente

A série “Gabriela”, da rede Globo de televisão, como todos sabem, é baseada no livro “Gabriela, Cravo e Canela: crônica de uma cidade do interior”, escrito por Jorge Amado. Este livro é considerado um dos maiores exemplos de vitalidade da literatura nacional. 

Dentre os personagens que povoaram a imaginação de Jorge Amado, muitos remetem a tempos específicos da história brasileira. Os Coronéis do cacau, os estrangeiros que escolheram o Brasil como morada, os ex-escravos que, sem muito que fazer com a liberdade concedida, permaneceram nas fazendas como “trabalhadores livres”, os bacharéis e sua posição privilegiada em um contexto onde cultura escolar era privilégio de pouquíssimos, dentre outros.

De todos os personagens, o que mais chama minha atenção é o professor Josué. Não vou propor nenhuma comparação entre a descrição televisiva e aquela presente narrativa de Jorge Amado. Digo apenas que o professor Josué é mais denso no livro do que na novela.

Pois bem, o que pretendo comentar é a construção do personagem na novela. Josué é um jovem poeta maltrapilho que sobrevive das aulas que ministra no colégio das moças de Ilhéus. Suas vestimentas e seu andar lembram o de outro clássico maltrapilho: o Carlitos, de Chaplin. A diferença é que Carlitos era um adorável vagabundo enquanto Josué não o é. Será?

Josué é apaixonado por Malvina, menina considerada moderna por desejar liberdade para escolher a literatura que pretende ler. Seu grande feito foi ler “O Crime do Padre Amaro”; escondido de seus pais, é claro. Malvina é filha única do coronel Melk Tavares, homem de garbo e elegância, aliado político de Ramiro Bastos, o coronel dos coronéis.

Coronel Melk descobre a paixão nutrida pelo professor Josué e decide sabatiná-lo. Facão em punhos, acusa Josué de ser um bosta, um pobretão que não valia nada, um professor idiota que perde tempo escrevendo versos enquanto quase morre de fome. Josué permanece calado perante todas as ofensas e chega a concordar com as palavras de Melk Tavares. Sua feição só se modifica ao final, quando o coronel afirma que mesmo considerando Josué um bosta, permitiria que ele cortejasse Malvina. Josué explode em felicidade e começa a preparar a aproximação com a jovem menina.

O primeiro passo foi convidar Malvina para um sorvete. Como ela precisou levar uma amiga, Josué comprou e pagou três sorvetes, o que consumiu todas as suas economias de professor.

Algumas cenas mais tarde, Josué pede um jornal velho para tapar o enorme buraco de seu sapato. Comenta que todo seu dinheiro se foi com os sorvetes, mas mesmo assim está feliz. Em outro capítulo, Mundinho Falcão, rico exportador de cacau, oferece dinheiro para que o professor comprasse um sapato novo. Josué nega e diz que, mesmo pobre e professor, mantém sua dignidade.

O mais intrigante nestas cenas é o conjunto relações propostas: pobre + poeta + sonhador + maltrapilho = professor. Ainda bem, para nós professores, que este personagem só existe na ficção. Será?

Em uma atividade de pesquisa ouvi, de uma professora, um relato intrigante. Ela falava de sua irritação com um tipo de docente com o qual era obrigada a conviver: o “sofressor”. Sua fala provocou risos entre os outros integrantes do debate. Ela explicou que o “sofressor” é aquele que quando vai trabalhar usa sua pior roupa, a pior bolsa, o pior sapato e chega dizendo: vamos lá para mais um dia de trabalho porque “eu sou o sofressor”.

Indignada, a professora dizia que era fundamental acabar com essa imagem de “sofressor” porque ela passa um recado desanimador para todos os estudantes. Ela sintetizou da seguinte forma: “se um aluno vê o professor assim, quando é que ele vai querer estudar se é o professor quem melhor representa o estudo?”

É uma boa questão e, por isso, pretendo deixá-la em aberto. Farei apenas uma pequena provocação. Quando decidi ser professor ouvi dezenas de comentários sobre professores formados que estariam trabalhando em indústrias, padarias, lanchonetes, vendendo roupas na Rua Teresa (polo de comércio varejista de Petrópolis), entre outras funções.

Minha estratégia era simples: quando ouvia esta indicação por parte de alguém, pedia “humildemente”: você pode me apresentar um destes professores?

A sequência era sempre a mesma: bom, eu não conheço nenhum, mas todos sabem que eles existem.

Eu concordo! Eles existem em nosso imaginário coletivo. Mesmo que nunca tenhamos visto um professor padeiro, dizemos a todos que eles existem e sua existência é tão real quanto a do maltrapilho professor Josué, ou a dos “sofressores” que praguejam contra Deus e o mundo quando vão trabalhar.

Mas há outros professores nada maltrapilhos que escolheram a docência como profissão e meio de vida, conhecem as agruras da vida de mestre, mas nunca se percebem como fracassados. São amados e odiados pelos alunos, escrevem monografias, dissertações teses, artigos, livros, acreditam em sua capacidade intelectual e olham para as escolas e para os sistemas educacionais, principalmente os mais precários, como realidades mutáveis. Espero que todos os meus alunos, que em breve serão professores, sejam assim. Eu faço minha parte porque, definitivamente, não tenho vocação para “sofressor” e não ando com o sapato furado. E você?

sábado, 30 de junho de 2012

LaPOpE on line


O Site do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades educacionais - LaPOpE já está on line.

O LaPOpE dedica-se à investigação do problema clássico da distribuição de oportunidades educacionais, em todos os níveis de escolaridade. Este problema, sabe-se, está intimamente associado à estratificação social e às diversas formas de segmentação observadas nas sociedades contemporâneas. Com abordagens típicas das ciências sociais, enfatiza aspectos socioeconômicos, culturais, demográficos, raciais e espaciais da desigualdade educacional. Suas pesquisas são produto da atividade coletiva de seus membros, em busca de recursos teóricos e metodológicos em diálogo com a literatura nacional e internacional. 

O LaPOpE adota procedimentos de pesquisa envolvendo o tratamento e a análise de dados em grande escala, produção de dados primários através de surveys, entrevistas, grupos focais, observação, georreferenciamento, análise socioespacial e documental, e demais recursos de modalidades qualitativas e quantitativas de pesquisa.

Somos um grupo de professores com especialidades complementares. Eu, Marcio da Costa, Mariane Koslinski, Ana Pires do Prado, Silvina Fernández, Gabriela Honorato e Rosana Heringer.



Vejam o site:
http://www.lapope.fe.ufrj.br/

domingo, 10 de junho de 2012

Escolhas familiares e estratégias de acesso às escolas do sistema municipal de educação do Rio de Janeiro: navegação social em um espaço de disputa.



O texto a seguir é o resumo do trabalho selecionado para o encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS/2012. Foi escrito em parceria com a antropóloga Ana Pires do Prado. É o resultado de um esforço coletivo, desenvolvido no LaPOpE - Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais. Os professores Marcio da Costa e Mariane Koslinski também colaboraram diretamente com este trabalho. A pesquisa inicial foi proposta por eles. 

O trabalho completo será apresentado no evento e estará disponível para consulta, leitura e impressão. Parta quem não conhece a ANPOCS, o site é http://www.anpocs.org.br/portal/. Vamos ao texto:

Em 2011 realizamos 54 entrevistas com pais de estudantes de escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro. Em uma delas, uma mãe afirmou: “Eles não querem crianças tipo daquela ´inclusão social`”. Ela fazia referência à uma escola pública que possuía critérios estipulados pela direção para escolher os seus alunos. Essa entrevista indica que as famílias escolhem as escolas para seus filhos a partir de determinados fatores e que o acesso à vaga, em alguns casos, depende dos critérios determinados pelas escolas, rompendo com a ideia de oferecimento universal e equânime de oportunidades educacionais.

A situação descrita ocorreu durante o trabalho de campo de um survey sobre a distribuição de oportunidades educacionais no Rio de Janeiro. O trabalho faz parte da pesquisa “O Funcionamento de Quase-Mercados Educacionais e a Segmentação Escolar” proposta pelos sociólogos Marcio da Costa e Mariane Koslinski. Insere-se, portanto, nos debates sobre desigualdades educacionais com foco na hierarquização e estratificação de escolas nos sistemas municipais de educação.

Inicialmente, o survey foi proposto com o objetivo de obter informações quantitativas sobre as escolhas feitas pelas famílias, com foco nos critérios que as orientam e nas estratégias utilizadas para o acesso às escolas. A pesquisa apresentava uma abordagem metodológica inovadora. Incluía, ao final do questionário, uma questão geral que deveria ser gravada. 

Os primeiros questionários indicaram que a gravação tornara-se importante porque os entrevistados apontavam detalhes dos processos de escolha e acesso às escolas. Os entrevistados também citavam informações relevantes enquanto respondiam às questões objetivas, mas estas informações não eram registradas porque o foco estava no questionário. Decidimos gravar todo o encontro de pesquisa e reconstruímos metodologicamente a investigação. Propusemos que os aplicadores trabalhassem em duplas e realizassem observações etnográficas durante os encontros de pesquisa. Foi necessário realizar um treinamento, que contribuiu para a reflexão sobre a prática antropológica e a “grafia” etnográfica. O resultado foi a ampliação do diálogo entre as abordagens antropológica e sociológica e, principalmente, o refinamento das análises empreendidas. 

Nesse trabalho temos dois objetivos: (i) descrever a organização da rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro, principalmente o remanejamento de alunos do primeiro para o segundo segmento do ensino fundamental; (ii) apresentar os processos utilizados pelos agentes sociais que interagem em situações de escolha e disputa por vagas no ensino fundamental, utilizando os dados obtidos com as entrevistas e com as observações etnográficas.

A rede municipal do Rio de Janeiro tem uma peculiaridade: a maioria de suas escolas não oferece o ensino fundamental completo. Em geral as escolas oferecem um dos segmentos do ensino fundamental. Essa situação faz com que os alunos tenham que mudar de escola após os cinco primeiros anos de escolarização. Esse processo é denominado na rede de remanejamento. Até 2011, os pais escolhiam três escolas em ordem de prioridade e os filhos eram alocados em uma delas. Em 2011, os pais puderam escolher cinco escolas. A lista tríplice passou a ser lista quíntupla. Nossos entrevistados, no entanto, trocaram de escola em 2009 e preencheram a lista tríplice. 

Em todos os casos, os familiares precisam escolher as escolas que desejam para os filhos. A análise das entrevistas permitiu propor uma tipologia para a interpretação dos processos de escolha de escolas. Há três tipos de escolha: (i) Escolha com a utilização exclusiva da burocracia municipal (escolha dirigida), que corresponde a processos de escolha em que os pais não tiveram atuação direta na eleição da escola. São casos em que os familiares acatam à indicação realizada pela burocracia municipal para escolher a escola. Como consequência, os filhos têm acesso às escolas escolhidas para eles pela própria burocracia das escolas em que estudavam durante o primeiro segmento, (ii) Escolha com a utilização de relações pessoais na burocracia municipal, situação em que os pais consultaram suas redes de solidariedade/relações pessoais dentro da burocracia municipal para a orientação de suas escolhas e (iii) Escolha com a utilização de relações pessoais externas à burocracia municipal. Este tipo corresponde aos processos de escolha em que os pais consultaram suas redes de solidariedade/relações pessoais externas à burocracia municipal. 

Também identificamos três estratégias de acesso: (i) Acesso com a utilização exclusiva da burocracia municipal, que corresponde aos processos de matrícula em que os pais, após escolherem a escola desejada, iniciam o processo de acesso utilizando exclusivamente a burocracia municipal, (ii) Acesso com a utilização da burocracia e das relações pessoais, situação em que os pais, após escolherem a escola desejada, iniciam o processo de acesso utilizando redes de solidariedade/relações pessoais com pessoas da própria burocracia municipal ou com pessoas que os conectam à burocracia municipal para o início do processo de matrícula na escola desejada e (iii) acesso com a utilização exclusiva de redes de relações pessoais, que corresponde aos processos de matrícula em que os pais, após escolherem a escola desejada, iniciam o processo de acesso utilizando, exclusivamente, suas redes de solidariedade/relações pessoais fora da burocracia municipal. 

Os resultados e análises, embora preliminares, são expressivos e nos permitem ampliar o debate sobre a relação das camadas populares com a escolarização em um sistema estratificado. Os dados apontam que as redes sociais presentes no campo de possibilidades de cada família tendem a orientar as escolhas e os acessos às escolas, principalmente as mais prestigiadas, o que influencia diretamente a qualidade da formação escolar dos estudantes e desafia o ideário republicano de oferecimento universal e equânime de oportunidades educacionais.

domingo, 27 de maio de 2012

Lula, os pobres e o avião


O ex-presidente Lula fez, dia 21 de maio, um discurso que me levou a lembrar de uma situação vivida em um avião. Quem indicou a fala do Lula foi minha esposa. Busquei o discurso no oráculo moderno – google – e encontrei Lula dizendo que em seu governo os pobres passaram a “andar” de avião; e completou: "fazer pobre andar de avião é difícil". Concordo plenamente com ele não somente porque a observação mais rotineira percebe a presença dos mais pobres nos aeroportos, mas porque as análises de fluxo aéreo indicam a mesma coisa: os pobres estão “andando” muito de avião.

Os dados são sempre frios e é possível saber que tantos por cento dos mais pobres passaram a voar. Para um antropólogo os dados frios não são suficientes porque, seguindo Malinowski, é necessário rechear o esqueleto com a carne e o sangue da vida social para que ele expresse a realidade de maneira mais coerente.

Não sou pesquisador da área, mas vivi um fato interessante, em 2009, em um vôo direto de São Luis do Maranhão para o Rio de Janeiro, que serve para ilustrar o fenômeno para além das estatísticas. Já contei esta história em dezenas de mesas de bar e em todas elas o diagnóstico foi preciso: este é um retrato do Brasil de Lula. Vou contar para vocês. Lá vai...

Fiz alguns concursos antes de ingressar no magistério superior. O primeiro em que fui aprovado foi para a Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Na época, foi uma felicidade seguida de um transtorno. Minha mulher estava fazendo mestrado aqui no Rio e dependia da Biblioteca Nacional, o que a impedia de seguir comigo para São Luis. Fui sozinho e passei a fazer a “ponte aérea” São Luis/Rio em todos os feriados nacionais. Ela também fez algumas, mas o mundo manda que os homens corram atrás das mulheres e não o contrário.

O vôo não era dos mais agradáveis. Quatro horas seguidas, partindo de São Luis às duas horas da madrugada e chegando ao Rio às seis horas da manhã. Valia a pena, mas seguir para o aeroporto, embora poético, não era nenhuma delícia. Bom, em um destes finais de semana aconteceria um jogo de futebol entre o Flamengo e o Vasco, um jogo de campeonato.

Minha visão preconceituosa me obrigava a acreditar que ninguém, por mais fanático que fosse, iria pensar em futebol às duas da madrugada em um avião apertado, ainda em solo. Eis que entram oito homens, em fila indiana, sussurrando o hino do flamengo, balançando uma bandeira e batendo com as mãos no teto do avião. Eu estava lendo e, simultaneamente, cochilando. Pensei que estava sonhando, mas o sussurro foi ficando mais alto conforme a “equipe” se aproximava de mim. Todos uniformizados, cantavam o hino do flamengo, batiam com as mãos no teto e falavam sobre o avião enquanto buscavam seus lugares. Meu “instinto” antropológico despertou quando ouvi: “primeira vez de todo mundo junto”. Entendi que todos estavam voando pela primeira vez e tinham escolhido o Rio de Janeiro por causa do jogo do campeonato.

Fiquei pensando o quão democrática era aquela cena e como representava o Brasil pós- Lula. Confesso que só pensei assim até o começo do drama que se seguiu.

Estava tudo bem até que, não sei por quais motivos, um dos flamenguistas decidiu provocar o sujeito que estava sentado à sua frente. Começou com a tradicional brincadeira: “Ei bacalhau! Ei, Bacalhau! Vem chupar... o restante é impróprio para o Blog”. Ocorre que o sujeito da frente não gostou da brincadeira e pediu para parar.

Não satisfeito, o flamenguista decidiu passar a mão na cabeça do vascaíno e dizer para ele: “fica calminho”. Lembrem: tudo isso em um avião em solo às duas da madrugada!

O Vascaíno retirou, com violência, a mão do flamenguista de sua cabeça. Ele pediu, aos berros, para o flamenguista parar com aquilo.

Foi o suficiente para o irmão do flamenguista comprar a briga, sair de seu lugar gritando que ninguém faria aquilo com o irmão dele e “convidar” o vascaíno para uma luta no corredor do avião. De fato, ele arrancou o vascaíno da poltrona e os dois começaram a brigar.

Eu estava perto, bem perto dos torcedores lutadores e vi todos os socos que foram trocados; também vi a correria das aeromoças e ouvi os gritos assustados e atordoados dos passageiros, alguns diretamente envolvidos no trabalho coletivo de separar a briga.

A briga acabou e os passageiros voltaram para seus lugares rapidamente, inclusive os brigões. Ocorre que em 10 minutos havia um delegado da polícia federal, acompanhado de dois policiais para retirar os brigões do avião. O diálogo foi o seguinte:

- Olá, eu sou..., delegado da polícia federal. Fui convocado pelo piloto da aeronave e gostaria que os senhores me acompanhassem.

- O flamenguista respondeu com uma pergunta: para onde?

- Para fora da aeronave.

- Que isso, amanhã é jogo do mengão. Se eu não for nesse vôo já era.

- O vascaíno, solidário, disse: “que isso, seu puliça (sic), já tá tudo tranqüilo aqui, né não, irmão”.

- O flamenguista concordou de pronto, começou a chorar, abraçou o vascaíno e implorou ao “seu puliça” que o deixasse falar com o piloto. Ele acreditava piamente que poderia convencer o piloto a deixá-lo no avião. O principal argumento era o jogo do mengão.

- O vascaíno, emocionado e também chorando, pedia ao delegado que chamasse o piloto para uma conversa. Os dois se abraçavam e trocavam beijos copiosamente enquanto imploravam pela presença do piloto. Diziam, enfaticamente, que estava tudo bem, que não iriam brigar, que a “situação” já estava resolvida, e toma-lhe mais abraço e beijo.

- Depois de alguns minutos o delegado tentou encerrar a questão dizendo que caso os dois não saíssem por bem teriam que sair algemados.

Novamente, o flamenguista disse não entender o que estava acontecendo. Gritou que estava pagando a passagem em 10 vezes igual na “casa Bahia” só para ver o "mengão" e chorou dizendo que por causa de uma briguinha de nada tudo estava perdido.

O vascaíno, agora mais que solidário, o abraçou e os dois saíram juntos, escoltados pela polícia. Enquanto saíam, o grupo de flamenguistas gritava o nome do amigo e dizia ... “Fica tranqüilo, é nóis”. O flamenguista erguia os braços e respondia “é nóis!! É nois!!”.

O avião partiu com 50 minutos de atraso e sem nenhum comentário sobre futebol.

O drama descrito fez com que eu gostasse ainda mais do Brasil pós-Lula. É claro que xinguei todas as gerações passadas e futuras de ambos os torcedores. Afinal, foram 50 minutos de atraso. Porém, aquele momento fez com que eu percebesse que a progressiva distribuição de renda que permite que pessoas mais pobres comprem suas primeiras passagens de avião pagando em 10 vezes para ver o “mengão” democratiza tudo: o avião, o aeroporto, a circulação nacional e até mesmo os conflitos entre torcidas de futebol. No avião, alguns torceram o nariz, outros riram, outros fizeram comentários sobre a “barbaridade” da situação, mas todos participaram intensamente deste drama que tinha o futebol como principal pano de fundo. É a “cara do Brasil”, pós-Lula, é claro!!!

domingo, 13 de maio de 2012

Os pobres e a escola


Sou antropólogo e ministro aulas de sociologia e antropologia da educação. Em ambas, procuro trabalhar para a construção do “olhar relativizador”.  Todos os meus alunos são incentivados a descrever situações abrindo mão de adjetivos e advérbios de intensidade. O objetivo é impedir que os escritores apresentem realidades para os leitores que existem apenas na cabeça de quem faz a narração. 

Para aprender a descrever, os estudantes precisam levar a lição de Durkheim às últimas consequências. É preciso abandonar “pré-noções” e “juízos-de-valor” buscando uma análise o mais neutra possível. Na sequência, os estudantes aprendem que um escritor experiente pode disfarçar todos os seus preconceitos em um texto descritivo abandonando, inclusive, quaisquer adjetivos e advérbios de intensidade. Neste momento eles percebem que as questões são mais complexas. 

A questão posta é a seguinte: para aprender a escrever é fundamental saber ler um certo tipo de leitura. Qual seja: uma leitura que busque abandonar as lentes que fazem com que vejamos a realidade com base em uma única e limitadora perspectiva. A base para o início do trabalho é abandonar a tentação de ler a vida como ela está posta em nossas cabeças e buscar a vida que está na cabeça dos outros, valorizando o “ponto de vista nativo” relacionado às situações analisadas. 

Quando utilizo estes exercícios em aulas relacionadas aos processos de segmentação presentes nos sistemas escolares provoco os estudantes pedindo que expliquem o baixo desempenho dos alunos em áreas de baixo nível sócio econômico. Peço que falem, apresentem sua visão pessoal, utilizem os autores já discutidos para pensar sobre a questão e busquem análises neutras. 

Há, nestas aulas, um fenômeno curioso. Em todas elas os “pobres” ou as “classes populares” são pensados como uma grande massa homogênea. Falas como “não dá pra esperar que uma criança pobre tenha o mesmo desempenho de uma criança de classe média”, “é necessário entender que as famílias pobres têm baixas expectativas educacionais”, “não podemos esquecer que o contexto em que as crianças são criadas influencia a relação que elas desenvolvem com a escola”, “os pobres acabam aceitando qualquer escola para os filhos” aparecem em todos os debates. 

De início, incentivo as falas, instigo debates e, curiosamente, os estudantes tendem a concordar que a relação que os mais pobres desenvolvem com a escola é uma relação de submissão aos desígnios da própria escola. Importante indicar que não trabalho somente com estudantes de classe média. Há, principalmente nas licenciaturas, número significativo de estudantes oriundos das classes populares. 

Depois desta tempestade de ideias, critico todas as falas e apresento os dados da pesquisa que estou realizando. O objetivo da investigação é mapear e analisar as justificativas de escolha e as estratégias de acesso utilizadas por pais e responsáveis que desejam ou precisam matricular os filhos no sistema municipal de educação do Rio de Janeiro. Neste momento, os estudantes descobrem que as famílias populares devem ser pensadas no plural. Há famílias com baixas expectativas educacionais que, de fato, aceitam os desígnios da escola. Porém, também existem famílias que conhecem e reconhecem a qualidade das melhores escolas da rede municipal e utilizam todas as estratégias presentes em seus campos de possibilidades para matricular os filhos nestas escolas. Há pais que buscam ajuda na burocracia municipal, que passam o ano inteiro visitando as escolas e acompanhando seus filhos, que buscam publicações sobre desempenho escolar e que, principalmente, incentivam seus filhos a dar o melhor de si para a escola. 

Depois que apresento os dados, os alunos pedem a palavra novamente e começam a contas dezenas de histórias de famílias populares que se esforçaram para conseguir vagas nas melhores escolas. Ao final destas aulas, alguns estudantes me procuram individualmente para contar suas histórias e o papel de seus pais. Já ouvi muitos relatos e todos indicam que se não fosse pela insistência de seus pais durante a educação básica, eles não teriam estudando em escolas publicas de qualidade e, como consequência, em sua visão, não estariam na UFRJ.

Estes exercícios permitem perceber a força de representações coletivas que associam pobreza material a baixo desempenho escolar e expectativas negativas relacionadas aos processos educacionais. Quando problematizamos estas classificações percebemos que os pobres são plurais e que também há, entre os pobres, alto desempenho e expectativas positivas sobre a escola e a capacidade de seus filhos. 

E você, conhece alguma historia de sucesso escolar nos meios populares?

domingo, 29 de abril de 2012

O frio dos Cariocas e o frio do Brasil


Hoje, para os padrões cariocas, está frio. Talvez até muito frio. Para os cariocas, não há nada mais estranho no Rio de Janeiro do que o frio. Eu não sou carioca e quase tenho vergonha de dizer isso por aqui, mas gosto do frio. Minha mulher quase me mata quando digo isso porque ela, carioca da gema, já está com todas as janelas fechadas para que o frio não a ataque e acabe com toda sua "carioquidade". 

 

Talvez um dos melhores elementos orientadores da cultura carioca seja o sol e o calor que ele proporciona. Se domingo for dia de sol é dia de ir para a praia, tomar um chope, conversar com amigos, caminhar na orla, visitar as paineiras, ficar de bobeira... Se não for dia de sol, ao contrário, o mundo acaba para os cariocas e não se faz nada disso. 

 

Fiquei pensando nestas questões porque acabei de ler um artigo do Vitor Ramil chamado “A estética do Frio”. Para quem não o conhece, Vitor Ramil é um compositor, cantor e escritor gaúcho. Ele escreveu este texto como uma viagem introspectiva à sua própria identidade gaúcha. Ele diz que o frio define os gaúchos para o resto do Brasil e que, como causa e consequência, também define o gaúcho para o próprio gaúcho. O artigo completo está disponível em: http://minerva.ufpel.edu.br/~ramil/vitor/estfrio.htm

 

Este artigo veio como dom em um circuito de reciprocidade que tenho desenvolvido com meu amigo Luiz Colatto. Colatto também é um homem do sul e, nesta lógica, assim como Vitor Ramil, é um homem do frio. Agora fora do sul, ele estranha quando se apresenta como um homem do sul e todos, imediatamente, dizem que faz muito frio lá, mesmo aqueles que nunca foram ao Sul. Ponto para o Vitor Ramil! O frio define os gaúchos para o resto do Brasil e eu diria que define todas as pessoas que vivem no sul. A representação é maior até mesmo que os gaúchos. 

 

Confesso que quando fui pela primeira vez a Porto Alegre estava buscando o frio. E o encontrei! Mas não era um frio tão frio assim. O inverno de Petrópolis não fica tão atrás. Para meus colegas que estavam no mesmo congresso, pelo contrário, o frio era o frio mais frio do mundo. Todos estavam com gorros, cachecóis, botas de couro, casacos e mais casacos. Além disso, reclamavam o tempo todo porque estavam no frio, mas também estavam felizes por isso. 

 

Esta conversa sobre a relação dos homens com as intempéries da natureza é uma das pedras de toque da antropologia. Marcel Mauss foi um dos pioneiros quando analisou as variações sazoneiras das sociedades esquimó e identificou que dois povos que viviam no frio se relacionavam com ele de maneira diferente. O ponto trazido por Mauss é preciso: os homens se relacionam com a natureza em um tipo de interação nada mecânica. Simbolizam o frio e o calor e os transformam em elementos integrantes de sua identidade cultural. 

 

Os cariocas se opõem aos gaúchos. Os gaúchos são "homens do frio" e os cariocas, "homens do calor". O mais curioso nesta história é que a gente sempre esquece que os cariocas também lidam com o frio e que os gaúchos também têm verão.  Mesmo assim, talvez possamos dizer que o verão define os cariocas na mesma medida em que o inverno define os gaúchos. Os cariocas, agora, como minha mulher, fogem do frio, fecham as janelas e resguardam sua “carioquidade” à espera do verão. Para os gaúchos, ao contrário, é hora de expandir toda sua “gauchidade”. Vale a pena observar as cidades nestes momentos. No Rio, acreditem, há cachecóis e tocas pelas ruas. Você já usou um cachecol no Rio? Eu não! Afinal, sou serrano e tenho um pacto simbólico com os “homens do frio”. 

 

Viva o frio!!

domingo, 15 de abril de 2012

Gilberto Velho morreu. Viva Gilberto Velho!

“A antropologia acaba de ter uma grande perda. Nossa, de tanto falarmos dele, parece até que eu o conhecia”.

Foi desta forma que ontem, 14 de abril de 2012, recebi a notícia da morte de Gilberto Velho. Uma mensagem de celular enviada por uma de minhas estudantes de iniciação científica. Ela está no terceiro período do curso de pedagogia da UFRJ e teve, comigo, uma disciplina de antropologia onde discutimos um dos textos clássicos do autor - “Observando o familiar” - e falamos sobre a extensa e refinada obra de Gilberto Velho.

Ouso dizer que todos os antropólogos brasileiros que tiveram, nas últimas quatro décadas, algum interesse pela antropologia urbana, leram, discutiram ou foram formados por Gilberto Velho. Trata-se de uma quase onipresença neste campo de estudos que foi, inclusive, progressivamente revigorado pelo esforço do autor na formação de especialistas. Isso sem contar com as contribuições que ele ofereceu para a internacionalização da antropologia brasileira. Dialogou com pesquisadores sobre o Brasil e outros temas, incentivou estudantes para que fossem estudar em universidades estrangeiras e recebeu os estudantes estrangeiros no Museu Nacional de Antropologia.

A comunidade antropológica do Brasil prestará muitas e devidas homenagens ao autor. Eu quis registrar esta, feita de maneira singela por uma jovem estudante que envia uma mensagem para o professor que a apresentou ao texto do Gilberto Velho e a fez pensar e sentir como se conhecesse o próprio Gilberto Velho.

O título da postagem expressa o que penso sobre este fenômeno. Gilberto velho morreu, mas está vivíssimo em todos os pesquisadores que ele formou. Ele também renasce em cada estudante de antropologia, ciências sociais, pedagogia... que lê seus textos e descobre, com certo fascínio, que é possível fazer uma boa antropologia quando se descobre que os outros podem estar muito próximos fisicamente, mas não deixam de ser outros, e bem outros.


Viva Gilberto Velho!!!


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nasce o LaPOpe

O Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais – LaPOpe é fruto do encontro entre sociólogos, antropólogos e pedagogos que têm a educação como tema de pesquisa. Ele é composto por Marcio da Costa, Mariane Koslinski, Ana Pires do Prado, Rosana Heringer, Gabriela Honorato, Silvina Fernandéz e por mim. Todos somos professores e pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As pesquisas desenvolvidas no LaPope agregam as metodologias quantitativa e qualitativa e têm por objetivo ampliar a reflexão sobre os sistemas educacionais. A perspectiva comparativa orienta as análises e visa construir conceitos e modelos analíticos que incluam as especificidades de cada sistema educacional analisado e, simultaneamente, permitam pensar nos sistemas educacionais de maneira universal.

O LaPOpe funciona na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em breve acontecerá o lançamento oficial de nosso site. Nele, apresentaremos nossos projetos de pesquisa e disponibilizaremos nossos artigos e livros. Por enquanto, os contatos podem ser feitos diretamente com os professores. No meu caso, os contatos também podem ser feitos aqui pelo Blog.

domingo, 1 de abril de 2012

Malinowski e o olhar antropológico

Bronislaw Malinowski é leitura obrigatória em qualquer curso de antropologia, tanto os que são montados para alunos de ciências sociais quanto aqueles oferecidos para estudantes de outras áreas. O autor é usado como exemplo de pesquisa de campo intensiva, o que envolve problematização, organização, escrita e, principalmente, treinamento do olhar.

Semana passada, participei de uma atividade que envolveu professores, estudantes de graduação e docentes da educação básica. O objetivo era discutir a proposta metodológica apresentada por Malinowski e iniciar um treinamento em pesquisa qualitativa, com ênfase na abordagem etnográfica.

Foi um momento interessante porque aqueles que ainda não conheciam o trabalho de Malinowski tiveram a oportunidade de apresentar as questões que a leitura do texto “Objetivo, método e alcance desta pesquisa[1] despertou. Foram muitas questões, principalmente relacionadas ao famoso recurso narrativo: “Imagine-se...”. Malinowski diz: “Imagine-se de repente desembarcado, rodeado por todo o seu equipamento, só, numa praia tropical próxima a uma aldeia nativa, enquanto a lancha ou bote que o trouxe se afasta até desaparecer no horizonte (...)”.

A ideia é transportar o leitor para o primeiro momento em que o antropólogo se depara diretamente com o campo; um momento importante para a definição do profissional que decide fazer antropologia. Ele convida o leitor para um encontro objetivo com a cultura Trobriand e, simultaneamente, para um encontro subjetivo com o antropólogo que, naquele momento, estuda os Trobriand.

Quem parece mais com quem? O leitor pode se sentir identificado com as alegrias e agruras vividas por Malinowski, mas também pode sentir empatia pela cultura das Ilhas Trobriand. O recurso “Imagine-se...” neste caso, permite que o leitor passeie pelo texto malinowskiano como quem passeia por um texto literário. É claro que há diferenças e distâncias significativas entre o texto literário e o texto antropológico, mas... em ambos os casos o autor precisa contar uma história par um leitor desconhecido.

No bate-papo com os professores da educação básica, as identificações mais frequentes ocorreram entre eles e Malinowski. A justitifcativa pode estar no fato de eles terem lido apenas o capítulo que fala do método. Neste, os nativos das Ilhas Trobriand aparecem, mas muito pouco. Mas há outras leituras possíveis: os professores imaginaram a situação, se colocaram no lugar de Malinowski e pensaram no que fariam neste contexto.

O recado final do texto de Malinowski é: a antropologia precisa compreender o mundo com base na perspectiva do outro. Encontrar e analisar o “ponto de vista do nativo” passou a ser, a partir de Malinowski, a principal obsessão dos antropólogos. Ela tem nos guiado, inclusive, na antropologia urbana onde há a ilusão inicial de que os outros não são tão outros assim.

O recado final da atividade que desenvolvi com os professores é: quando levamos o recurso “Imagine-se...” às últimas consequências, podemos aplicar a proposta malinowskiana à leitura do próprio texto de Malinowski. De certa forma, quando os professores simpatizaram com Malinowski o fizeram porque estavam respeitando o ponto de vista de Malinowski sobre aquele mundo que ele próprio apresentava aos seus leitores.

E você, o que acha disso? Deixe seu comentário. 

Um detalhe: recebi alguns e-mails onde leitores reclamavam da necessidade de identificação para a postagem de comentários. Atendendo a pedidos... liberei as postagens. Não há necessidade de identificação. 
  



[1] Publicado em GUIMARÃES, A. Z. Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1980.

domingo, 18 de março de 2012

Conversa de taxista: a praia, o metrô e a diferença.


Uma das coisas mais interessantes no Rio de Janeiro é andar de táxi. O serviço não é dos mais baratos, nem dos melhores, mas o tempo que se passa junto aos taxistas pode ensinar sobre as coisas da vida. 

No verão de 2011 peguei um taxi em Ipanema. Seguia em direção ao Largo do Machado quando o motorista começou a puxar conversa. Perguntou se eu estava na praia e eu disse que não. Ele respondeu: “faz o senhor muito bem!”. Não entendi a colocação, muito menos a ênfase e decidi perguntar por quais motivos ele considerava que não seria bom estar na praia. Foi o suficiente para o taxista contar toda sua história familiar até chegar aos motivos da afirmação. 

Ele contou que nasceu em uma família de classe média alta, que vivia em Copacabana. Com a morte do pai, os bens da família foram sumindo porque não havia ninguém que sustentasse os luxos, o padrão e o estilo de vida. Simbolicamente, a família ainda se pensava e se auto-representava como uma família de classe média alta, mas materialmente estava cada vez mais próxima das classes trabalhadoras. 

Com o passar dos anos, a situação financeira piorou ainda mais, os bens foram vendidos e o patrimônio quase desapareceu. Como herança, sobrou o apartamento de Copacabana e uma pequena quantia em dinheiro. O que fazer? Sua decisão foi comprar um táxi porque já que teria que trabalhar seria melhor trabalhar por conta própria. Ele não suportaria horários fixos e um patrão. Além disso, poderia continuar vivendo e convivendo em Copacabana. 

Depois da história familiar ele emendou dizendo que se sentia muito feliz por não gostar mais de ir à praia. Comentou que frequentara a praia por muitos anos e que passara a adolescência e boa parte da juventude com seus amigos na praia. Foi quando disse que naquela época a praia era outra: cheia de gente bonita, com pessoas agradáveis que aproveitavam o sol para um mergulho, leitura ou conversa silenciosa com os amigos. Agora, diz ele, não se consegue mais nada disso em Copacabana. “É uma farofada, gente ouvindo música alta, ninguém mais lê e a praia vive lotada”. Seu diagnóstico dizia: “é culpa do metrô”. Ele afirmou com toda ênfase que antes da chegada do metrô a praia era diferente. 

E ele completou: o senhor pode se preparar porque vai acontecer a mesma coisa com Ipanema. Agora que o Metrô está por lá, pode esquecer. Ipanema vai acabar da mesma forma que Copacabana acabou. No final de semana, então, será impossível!

Minha conversa com o taxista me fez pensar em uma das temáticas que fundaram a moderna reflexão antropológica: o debate sobre a construção social da diferença. Ele identificava a decadência material de sua família como um problema, mas não a associava à “decadência” dos modos de vida e padrões de comportamento. Chegou a dizer que trabalhava como taxista, mas não era muito taxista. Separava, portanto, sua existência profissional da existência profissional dos outros taxistas. Ele era um “cara de Copacabana” e não aceitava que outras pessoas “invadissem” o espaço que classificava como seu. Em seu discurso estava implícito que essas pessoas que comem farofa, ouvem músicas altas, e falam o tempo todo não podem ser pessoas de Copacabana. Por isso, ele estava decidido e concluiu toda a história dizendo: “nunca mais irei à praia”. A sentença era justificada da seguinte forma: “porque a praia acabou”. 

Quando deixei o taxi fiquei pensando na conversa e no metrô. É incrível como um transporte público aproxima as pessoas geograficamente e, ao mesmo tempo, faz com que os processos simbólicos de construção das diferenças sejam ampliados e até mesmo exacerbados. É claro que o taxista apresenta uma visão que não é, evidentemente, a visão de todos os moradores de Copacabana, mas é uma visão de alguém que reside em Copacabana. Às vezes, a ampliação da proximidade geográfica aumenta, simultaneamente, as distâncias culturais, mas também podem surgir movimentos interessantes no meio deste espaço de conflito. 

Seria bom saber o que pensam sobre os moradores de Copacabana aqueles que não vivem no Bairro e usam o metrô para ir à praia. Não vou me alongar. Afinal, é apenas uma postagem. Muitos antropólogos competentes já estudaram as areias cariocas e os bairros da zona sul: Mirian Goldenberg, Gilberto Velho, Fabiano Gontijo, Patrícia Farias, Marisol Goia, Stéphane Malysse, entre muitos outros. Vale a pena lê-los.


domingo, 11 de março de 2012

Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também...

A canção “somos quem podemos ser”, do grupo "Engenheiros do Hawaii" sempre chamou minha atenção. Na época, década de 1980, havia uma certa “resistência carioca” à banda gaúcha. Em minha opinião, Humberto Gessinger é um dos grandes poetas do Rock Brazuca, mas sua poesia com um toque regionalista não agradava aos cosmopolitismos do sudeste. 

Polêmicas à parte, meu objetivo não é discutir a cena rock brasileira nos anos 1980. Eu utilizei esta frase em sala de aula quando um estudante perguntou sobre os verdadeiros culpados do fracasso da educação brasileira. Foi engraçado porque os alunos mais jovens não entenderam a citação. Tive que explicar, mas acabou fazendo sentido no final. 
Utilizei a frase porque nos últimos anos tenho formado professores e pesquisado em contextos escolares. O fracasso da educação pública no Brasil é um consenso, bem perigoso, diga-se de passagem. Por isso, dedico parte de minhas aulas à problematização da ideia de fracasso e ao debate sobre as hierarquias de desempenho presentes nos sistemas educacionais. Há, em todos os sistemas, processos de segmentação que fazem com que as escolas sejam muito diferentes. Quando falo sobre isso, não consigo fugir da pergunta: mas de quem é a culpa?


Os estudantes, com muita frequência, querem crucificar alguém e este alguém ganha diversas faces no debate. O culpado é o governo, o Banco Mundial, a falta de estrutura nas escolas, os salários dos professores, o nível socioeconômico das famílias e por ai vai. Estas falas também estão presentes nas narrativas de professores, gestores e até mesmo de alguns especialistas em educação. 
Quando utilizei o verso da música, propus um debate sobre responsabilidades individuais. Disse aos estudantes que o problema é mais complexo e que a caça às bruxas ou a busca pela Geni (aquela que é boa de cuspir) atrapalha qualquer reflexão mais consistente sobre educação. É preciso pensar nas responsabilidades do Estado, nas influências internacionais, no salário dos professores, no nível socioeconômico das famílias, mas também nas atividades docentes, nas crenças dos professores sobre a capacidade intelectual dos estudantes, no tempo realmente utilizado para atividades de ensino e nas expectativas dos professores sobre sua própria profissão. 
Minha discussão sobre o suposto fracasso educacional brasileiro também visa chamar atenção dos futuros professores para suas responsabilidades com o ensino. Eles, em geral, não querem ser professores, mesmo estudando em cursos de licenciatura. Esta contradição ilustra a complexidade deste debate. Nestes casos, sempre procuro deixar um recado: a profissão docente tem que ser uma escolha e melhor seria se aqueles que a escolhem, escolhessem com vontade de fazer a diferença nas escolas em que estiverem trabalhando. Somos quem podemos ser, mas também podemos encontrar as chaves que abrem a prisão criada pelo desânimo relacionado à escola e aos sistemas educacionais. Afinal, o melhor professor é aquele que ensina acreditando que todos os estudantes podem aprender. Para isso, é preciso ânimo!
E você, o que pensa sobre a educação e a profissão docente no Brasil? Deixe seu comentário.

sábado, 3 de março de 2012

Pesquisas comparativas e eventos científicos: o treinamento do olhar.

Pesquisas comparativas tendem a produzir contribuições importantes para o debate científico em torno de uma área de conhecimento. A principal dificuldade é estabelecer os critérios de comparabilidade para que não se misture, como diz o ditado popular, “alho com bugalho”. Antes de comparar, é necessário discutir os limites e as fronteiras das comparações propostas, o que se dá em longas e produtivas conversas acadêmicas. Elas são importantes para o treinamento do olhar sociológico, e também do olhar antropológico.

Eventos científicos são excelentes espaços para este tipo de conversa. São momentos em que pesquisadores de diferentes origens apresentam suas pesquisas e conhecem trabalhos convergentes com os que estão realizando. Por isso, além de grandes espaços de sociabilidade, os Congressos, Seminários, Simpósios, são espaços de muito trabalho e troca de conhecimentos. Eles também permitem que pesquisadores iniciantes (graduandos, mestrandos, doutorandos), convivam com os mais experientes e apreendam as minúcias presentes no cotidiano da pesquisa.

A sociologia da educação trabalha com temas abrangentes, dentre os quais a análise da distribuição de oportunidades educacionais. É um campo vigoroso que ganha muito com comparações entre sistemas escolares presentes em países diferentes.  De 25 a 27 de julho de 2012 teremos a oportunidade de discutir este e outros temas no III Colóquio Luso-Brasileiro de Sociologia da Educação. O evento acontecerá no campus Praia Vermelha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Jovens e experientes pesquisadores interessados no debate entre Ciências Sociais e Educação poderão inscrever trabalhos e/ou participar do evento. O Colóquio foi organizado por uma equipe composta por pesquisadores renomados no Brasil e em Portugal. São eles:

Comissão organizadora Brasileira: Lea Pinheiro Paixão (UFF), Marcio Costa (UFRJ), Paulo Carrano (UFF) e Zaia Brandão (PUC-Rio).
Comissão organizadora Portuguesa: Ana Matias Diogo (UAC), Lia Pappamikail (IPS) e Maria Benedita Portugal Melo (UL).
Comissão científica Brasileira: Maria Alice Nogueira (UFMG), Juarez Dayrel (UFMG), Marília Pinto Carvalho (USP) e Graça Setton (USP)
Comissão científica Portuguesa: Maria Manuel Vieira (ICS), José Resende (UNL) e João Teixeira Lopes. 

Eu estarei lá! E você, que tal treinar o olhar antropológico neste evento?

Maiores informações estão disponíveis em: http://www.coloquiolusobrasileiro.com/