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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Petrópolis: tragédias são tragédias quando não são anunciadas.

Sou petropolitano e tragédias como a de hoje atravessam toda a minha vida. Já fui flagelado (é o termo que sempre usamos nessas situações), precisei abandonar uma das casas em que residi, a casa da minha infância, perdi amigos, familiares, vivi as dores da diáspora de vários que, como eu, de uma hora para outra viam seus mundos desaparecerem. Boa parte da minha família já perdeu tudo pelo menos uma vez. Alguns, mais de uma vez. 

Hoje uma prima perdeu todos os bens materiais. Um amigo de infância correu risco de vida ilhado em pleno centro da cidade, outros amigos estão apavorados com o que estão vendo, vivendo, sentido. 

As tragédias acontecem. Chove muito? Sim! Há encostas que deslizam? Sim! Os rios transbordam? Sim! Mas junto de tudo isso há décadas e décadas de total descaso dos poderes públicos com a cidade e todos os seus moradores. 

Petrópolis cresceu muito nos últimos 50 anos. Não vou encher esse post de dados porque não é esse o propósito. Cresceu muito, foi e é mal administrada. Boa parte da tragédia é simples tragédia, mas outro tanto é fruto de simples descaso. 

Nestes momentos todos sofrem e choram. Choram aqueles que foram diretamente atingidos e outros que não perderam nada, mas têm empatia com aqueles que perderam. 

A tristeza impera e ainda há muito por vir. Infelizmente está somente começando. 

E nesses momentos, como em tudo que é ruim no Brasil, quem mais sofre são os mais pobres, mais pretos, mais abandonados desde que nasceram. Perdem familiares, perdem amigos, perdem os bens materiais que nem têm para perder e morrem. 

É tragédia, é flagelo, é isso tudo. Mas também é muita incompetência das nossas gestões públicas nas últimas décadas.