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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

sábado, 18 de agosto de 2012

Roberto Carlos, os homens e suas mulheres - dica de final de semana




Eu sempre escutei as músicas de Roberto Carlos. Sabia que era brega, mas minha mãe adorava. Ela nunca foi muito interessada em televisão, mas agia como uma leoa quando meu pai sugeria que ela deixasse de assistir ao especial de final de ano do “Rei”.

Eu achava engraçado porque meu pai provocava, dizia que iria desligar a televisão, e ela atacava afirmando que ele estava morrendo de ciúmes do “Rei”.

Esta novelinha doméstica, depois de alguns anos, me fez pensar nos motivos que transformavam Roberto Carlos na trilha sonora da vida de tantas pessoas. Afinal, minha mãe não era a única. Todas as amigas também adoravam o “Rei”. Era uma adoração diferente. A beleza nunca era citada porque o encanto estava na voz e nas músicas.  

Bem mais tarde, quando li o clássico da boêmia carioca “Noites Tropicais”, do Nelson Motta, percebi que ele malhava Roberto dizendo que o “Rei” imitava João Gilberto. Depois admitiu que acompanhou Roberto Carlos em alguns shows, cedeu aos seus encantos e pediu um autógrafo. Ainda disse que nunca tinha pedido autógrafo de ninguém, mas com o “Rei” era diferente.

Que poder é esse? Minha mãe não ignorava e cena musical da década de setenta e anteriores. Gostava da jovem guarda, ouvia os tropicalistas. Meu pai gostava e cantava os clássicos da década de 1930 até 1950. Mas ela gostava mesmo era do “Rei”.

Ontem recebi uma intimação de minha esposa. Nós vamos assistir “à beira do caminho”. O que fazer em uma hora dessas? Apenas dizer: claro, amor. Que ótimo!

Segui para o cinema um tanto quanto desanimado. Não tinha muitas expectativas com relação ao filme, mas fui com o coração aberto. Logo nos primeiros minutos o personagem principal, um caminhoneiro, se desfaz em lágrimas ao som de... Roberto Carlos. Incrível!!!

Nunca tinha pensado na força das letras emocionais do “Rei” para os homens, principalmente para homens no perfil “machão tradicional”. O filme segue ao som do Roberto e há muitos momentos emocionantes. Não digam a ela que contei, mas minha mulher chorou o tempo todo. Eu não chorei porque tenho que manter a minha fama de mau.

“À beira do caminho” é um filme que fala de emoções vividas por homens rústicos e machões. Não vou entrar em detalhes porque não sou crítico e nunca serei. Aliás, detesto críticos de cinema, música e literatura. Detesto alguns acadêmicos também, mas isso não vem ao caso. Quero apenas indicar a excelente performance de Vinicius Nascimento, jovem ator que contracena com João Miguel e Dira Paes. O garoto tem algumas tiradas excepcionais. Vai aprendendo a ser homem com o caminhoneiro João e, ao mesmo tempo, o ajuda a arrancar do peito a dor que guardava e que só era liberada, aos poucos, quando ouvia as primeiras estrofes de “Nossa Canção”:

Olhe aqui, preste atenção
Essa é a nossa canção
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer
O nosso amor
Nosso amor!...

O filme é, sem dúvida, minha dica para o final de semana.