A canção “somos quem podemos ser”, do grupo "Engenheiros
do Hawaii" sempre chamou minha atenção. Na época, década de 1980, havia uma
certa “resistência carioca” à banda gaúcha. Em minha opinião, Humberto Gessinger
é um dos grandes poetas do Rock Brazuca, mas sua poesia com um toque
regionalista não agradava aos cosmopolitismos do sudeste.
Polêmicas à parte, meu
objetivo não é discutir a cena rock brasileira nos anos 1980. Eu utilizei esta
frase em sala de aula quando um estudante perguntou sobre os verdadeiros
culpados do fracasso da educação brasileira. Foi engraçado porque os alunos mais
jovens não entenderam a citação. Tive que explicar, mas acabou fazendo
sentido no final.
Utilizei a frase porque
nos últimos anos tenho formado professores e pesquisado em contextos escolares.
O fracasso da educação pública no Brasil é um consenso, bem perigoso, diga-se
de passagem. Por isso, dedico parte de minhas aulas à problematização da ideia de
fracasso e ao debate sobre as hierarquias de desempenho presentes nos sistemas
educacionais. Há, em todos os sistemas, processos de segmentação que fazem com
que as escolas sejam muito diferentes. Quando falo sobre isso, não consigo
fugir da pergunta: mas de quem é a culpa?
Os estudantes, com muita
frequência, querem crucificar alguém e este alguém ganha diversas faces no
debate. O culpado é o governo, o Banco Mundial, a falta de estrutura nas
escolas, os salários dos professores, o nível socioeconômico das famílias e por
ai vai. Estas falas também estão presentes nas narrativas de professores,
gestores e até mesmo de alguns especialistas em educação.
Quando utilizei o verso
da música, propus um debate sobre responsabilidades individuais. Disse aos
estudantes que o problema é mais complexo e que a caça às bruxas ou a busca
pela Geni (aquela que é boa de cuspir) atrapalha qualquer reflexão mais
consistente sobre educação. É preciso pensar nas responsabilidades do Estado,
nas influências internacionais, no salário dos professores, no nível socioeconômico
das famílias, mas também nas atividades docentes, nas crenças dos professores
sobre a capacidade intelectual dos estudantes, no tempo realmente utilizado
para atividades de ensino e nas expectativas dos professores sobre sua própria
profissão.
Minha discussão sobre o
suposto fracasso educacional brasileiro também visa chamar atenção dos futuros
professores para suas responsabilidades com o ensino. Eles, em geral, não
querem ser professores, mesmo estudando em cursos de licenciatura. Esta contradição
ilustra a complexidade deste debate. Nestes casos, sempre procuro deixar um
recado: a profissão docente tem que ser uma escolha e melhor seria se aqueles
que a escolhem, escolhessem com vontade de fazer a diferença nas escolas em que
estiverem trabalhando. Somos quem podemos
ser, mas também podemos encontrar as chaves que abrem a prisão criada pelo
desânimo relacionado à escola e aos sistemas educacionais. Afinal, o melhor
professor é aquele que ensina acreditando que todos os estudantes podem
aprender. Para isso, é preciso ânimo!
E você, o que pensa
sobre a educação e a profissão docente no Brasil? Deixe seu comentário.