A primeira vez que ouvi algo relacionado ao “esquerdo-macho”
foi quando uma amiga de longa data, que estava interessada em um camarada que
eu tinha conhecido fazia pouco tempo, tentou explicar os motivos pelos quais não ficaria com o
cara. Ela disse que ele era bonito, simpático, até bem agradável em alguns
momentos, mas era muito “esquerdo-macho”.
Achei graça do termo e pedi uma definição mais precisa. Foi
quando ela disse que o “esquerdo-macho” é um homem moderninho, que rompe com as
regras de gênero para a definição das roupas que vai usar, curte o movimento
ambientalista, está sempre ligado e defendendo ideias de esquerda - no caso do
Rio de Janeiro vota no Freixo, escolhe carreiras acadêmicas e apoia o movimento
feminista.
Surpreso, eu perguntei: mas o que há de errado com esse
cara? Ao que ela respondeu: “Rodrigo,
fala sério, não percebeu? Eu disse que ele apoia
o movimento feminista. Quem disse que o feminismo precisa de apoio de qualquer
homem? Isso é o patriarcalismo travestido de moderninho; os homens achando que
precisamos deles para fazer o nosso movimento. Fodam-se os homens!”. Ela
terminou dizendo que eu era legal, mas às vezes era muito “esquerdo-macho”
também. Dessa conversa surgiu a primeira definição. “Esquerdo-macho” é um
babaca com pensamento patriarcal. Ainda bem que para mim ainda rolou um "às vezes". É bem diferente de sempre!
Depois disso
fiquei encucado com essa história e decidi pesquisar. Como trabalho em uma
Faculdade de Educação, fica fácil colocar esses temas em pauta. Daí que uma
aluna me disse o seguinte. “Que nada,
professor, ´esquerdo-macho` é aquele cara que finge ser moderninho, usa roupas
transadas, até usa rosa, faz um discurso de apoio às demandas femininas, mas no
fundo ele só quer comer todo mundo”. Essa fala conduziu-me à segunda parte
da definição. “Esquerdo-macho” é um comedor tradicional, orientado por
estratégias de aproximação com as demandas femininas.
Ainda ocorreu mais um debate interessante. Outra aluna
comentou que odiava o “tipo esquerdo-macho” porque era como um machão dentro do
armário. Ela comentou que basta apertar um pouquinho o “esquerdo-macho” em um
debate e ele acaba cedendo. Em poucos minutos brota um machão tradicional, bem
Jesse Valadão. Esse aspecto permite uma conexão com as duas definições
anteriores. O “esquerdo-macho” é um machão tradicional, que quer comer todo
mundo – quase um Jesse Valadão – mas que fica dentro do armário posando de
moderninho.
Eu estava quase convencido da pertinência das definições anteriores
até que outra aluna disse que “ah, mas
até que ´esquerdo-macho` é legal. É melhor do que homem tradicional porque se
você acusar ele de ser ´esquerdo-macho` ele baixa a bola e fica legal de novo”.
Eureca! Eu não tinha pensado nesse aspecto. O “esquerdo-macho” pode ser
controlado. Achei legal descobrir isso porque eu ainda estava tenso com a
acusação de minha amiga. Felizmente, descobri que posso não ser um “esquerdo-macho”,
basta querer. Será!?
A coisa complicou quando busquei a perspectiva masculina
e um amigo me contou uma boa. Ele disse que foi elogiar a beleza de uma menina
na balada e ouviu o seguinte: “sai pra
lá, não preciso desses elogios babacas de esquerdo-macho”. Ele tinha dito
que ela estava "muito bonita naquela noite". Ainda estou tentando classificar
essa fala na minha taxonomia do “esquerdo-macho”. Se alguém quiser ajudar, eu
agradeço!!!