Minha prima, Adriana Machado, escreveu um texto detalhando a participação das mulheres e das meninas nos rituais. Ela revela uma série de questões, inclusive relacionadas à socialização das meninas para serem moças "prendadas" e habilitadas ao casamento. Vamos ao belo texto:
Por: Adriana Machado
Sou a prima do antropólogo Rodrigo Rosistolato, a que morava em outro bairro.
Sempre vivi em meio aos animais, minha vó criava galinhas, coelhos e porcos. Depois do seu falecimento, meu pai adquiriu por herança esse hábito até os dias de hoje. Detalhe: é aqui na cidade grande.
Houve uma época em que a cozinha iria ser modificada para um novo cômodo, mas meu pai comprara um porquinho achando que seria pequeno, e o bichão cresceu tanto que não tinha lugar para ficar, a obra foi esquecida esperando o tal famoso dia de matar o cachaço!!
Os homens não deixavam as crianças participarem do momento da morte, diziam que a morte seria dolorosa se ficássemos com pena. No dia marcado, dependendo do tamanho do animal e se o matador perdesse a confiança, inicialmente o porcão ganhava uma marretada na cabeça para "tontear," e depois o punhal era a ferramenta utilizada para sangrar o bicho.
Nesse momento as mulheres se reuniam para amolarem facas, preparar temperos, escaldar as latas em que as carnes seriam guardadas depois de prontas, porque nada era congelado.
Os homens permaneciam até o porco ser morto, sapecado, aberto, separado o sangue e começar o tiragosto.
Posterior a isso tudo.
As mulheres iniciavam os trabalhos, lavar as tripas para o preparo do chouriço e das linguiças. Separar o toucinho das carnes, temperar e cozinhar tudo.
Não tinham hora para dormir, só depois de tudo pronto. Os homens sumiam da cozinha ou do quintal. Esse trabalho era exclusivo das mulheres e das meninas, que não podiam sair de perto, porque tinham que aprender como era feito todo o processo para a carne não estragar .
Se a gente tentava escapar, a vó chamava: "vem menina, tem que aprender , como vai ser uma moça prendada, quem vai querer casar com océ!!"
Ah, detalhe: era tudo feito no fogão a lenha, as mulheres ainda precisavam cuidar da lenha para não deixar que o fogo apagasse.
Quanto às galinhas, também eram as mulheres que matavam, limpavam e cozinhavam sozinhas, sem ajuda dos homens. Isso quando as galinhas mesmo sem pescoço não ficavam pulando pela casa, sujando tudo até morrerem!
Era um terror, hoje a gente ri!!!
Não sei se devo comentar mas até hoje, mesmo sem espaço, meu veinho tem um galinheiro, convivo com o cheiro, o canto do galo na minha porta todos os dias.
Mas não reclamo, é uma distração e uma briga sem tamanho entre ele e minha mãe!
Ele quer matar umas galinhas de vez em quando para comer, e quem teria que depenar, limpar e fazer é a minha mãe.
Ela não deixa. Diz que na panela dela não vai colocar galinha nenhuma, porque demora mais de três horas no fogo para cozinhar!! Com isso, eles discutem e as galinhas vão vivendo até morrerem de velhice!!!
É saudoso relembrar, sabores que não se igualam a nada hoje.
Porém existem essas questões sobre as tarefas a serem realizadas, essa é do homem e essa é da mulher.
Contudo quais são as tarefas masculinas e femininas ???