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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A bunda da Anitta: entre a objetificação e o empoderamento?

Eu acompanho o funk carioca faz muitos anos e acho os funkeiros e as funkeiras fantásticos. É impossível classificá-los como um movimento porque são muito plurais e divergem radicalmente em suas abordagens e propostas. No entanto, do funk melody comportadinho ao batidão ultra sensualizado, cada qual com suas questões, meninos e meninas das periferias conquistaram um lugar na cena cultural carioca, depois na cena Brasileira e mundial. Esse reconhecimento, embora eu não seja chegado a afirmações categóricas, parece-me inegável! Os funkeiros entraram nas disputas pela definição da estética hegemônica e não apenas garantiram seu lugar como converteram-se em formadores de tendências.

Hoje recebi dezenas de mensagens em meus grupos de whatsapp sobre o novo clip da Anitta. Eu não acompanho diretamente a carreira dela, mas também é inegável que a menina faz sucesso e cria uma série de polêmicas. Achei esse debate tão bom que fiz inclusive uma enquete com meus alunos, sobre suas impressões relacionadas ao clip. Surgiu de tudo nos grupos de conversa e na enquete. Classificações pejorativas como vulgar, apelativo, brega, racista, estereotipado, conviveram com comentários relacionados à beleza dos corpos e à inteligência da cantora e de seus empresários.

Há também uma oposição que orientou esse debate. Havia aqueles que viam o clip (e a bunda da Anitta) como um espaço de objetificação do corpo da mulher e uma reverência ao machismo tradicional brasileiro. Outros, no entanto, argumentaram que a Anitta era dona de seu corpo (e de sua bunda). Estava, portanto, empoderada e defendendo o lugar das mulheres senhoras de si mesmas. Em vários momentos as falas da cantora contra o machismo, realizadas em shows e entrevistas, foram citadas para defender uma ou outra posição, e essas reflexões foram feitas por homens e mulheres, com diferentes identidades sexuais.  

Empoderamento feminino ou objetificação do corpo da mulher? Depende da leitura que se faz e das disputas que as leituras carregam. Anitta jogou a dúvida para o mundo e nesse ponto ela é absolutamente genial, ou... Malandra.

Vai, Malandra...

É interessante ver como esse clip chega no exterior também. Há uma menina Holandesa chamada Nienke, que ficou famosa no youtube por experimentar coisas e refletir sobre questões brasileiras. Ela assistiu ao clip da Anitta e reagiu. Achei hilário. Não vou comentar. Quem quiser ver, verá em: