“É hoje, é
hoje, é hoje que eu tô querendo, tô mole que nem manteiga, o sol tá me
derretendo”.
É hoje que eu tô querendo
homenagear o Almir Guineto.
Essa semana morreu um
dos caras que conduziram meu gosto pelo samba. Almir Guineto e o Grupo Fundo de
Quintal contribuíram muitíssimo para a divulgação do samba de partido alto no
Brasil e no mundo. Como reza a lenda, eles só estavam lá no Cacique de Ramos tocando,
disputando partido alto e divertindo a rapaziada. Depois veio o grupo, o
acolhimento promovido pela Beth Carvalho, o sucesso nacional e por ai vai...
Almir era o Cacique,
era o Fundo de Quintal, mas era principalmente o Guineto. Foi um dos
responsáveis pela introdução do banjo no samba, cantava falando e falava
cantando. Um grande cantor que interpretava suas músicas e as de outros
compositores fazendo com que todos acreditassem que também eram suas, tamanha a
desenvoltura com a qual as cantava.
Várias músicas interpretadas
por ele foram cantaroladas em bares, rodas de samba e também no espaço privado
das residências, Lembro-me que certa vez eu fui repreendido por minha avó
porque eu estava cantarolando animadamente os versos de “Caxambu”.
“Olha vamos na dança do Caxambu
Saravá, jongo, saravá, engoma meu filho que eu quero ver
Você rodar até o amanhecer, engoma meu filho que eu quero ver
Você rodar até o amanhecer”.
Saravá, jongo, saravá, engoma meu filho que eu quero ver
Você rodar até o amanhecer, engoma meu filho que eu quero ver
Você rodar até o amanhecer”.
Ela disse: “não canta isso, menino, isso é ponto de macumba e não se
pode cantar ponto de macumba dentro de casa”. Eu respondi que não era ponto,
que era um samba; e ela encerrou a conversa dizendo que se não era, parecia
"ponto de macumba".
O samba, assim como a "macumba", sempre teve a capacidade de aproximar
pessoas pertencentes a contextos diferentes, de cores diversas, de religiões
mais do que plurais.
Essa semana o Almir se foi. E isso é uma pena porque
atualmente precisamos, e muito, de artistas que, como ele, contribuam para a
união dos brasileiros em oposição ao extremo processo de fragmentação que
estamos vivendo.
Afinal, não há roda de samba em que Caxambu seja entoada e alguém deixe de
ensaiar um jongo ou até mesmo alguns “passos de macumba”. Nesses momentos,
tanto faz se somos brancos, pretos, pobres, de classe média, homens ou
mulheres. Somos todos brasileiros! Até mesmo os gringos, que também são presença
frequente em rodas de samba, caem no jongo e na "macumba". Lá se vai a
fragmentação e vem aquilo que mais nos aproxima!
Para quem não conhece ou conhece pouco, vale a pena ver o partido alto que
uso como título dessa postagem.