Eu sempre escutei as
músicas de Roberto Carlos. Sabia que era brega, mas minha mãe adorava. Ela nunca
foi muito interessada em televisão, mas agia como uma leoa quando meu pai
sugeria que ela deixasse de assistir ao especial de final de ano do “Rei”.
Eu achava engraçado
porque meu pai provocava, dizia que iria desligar a televisão, e ela atacava
afirmando que ele estava morrendo de ciúmes do “Rei”.
Esta novelinha
doméstica, depois de alguns anos, me fez pensar nos motivos que transformavam
Roberto Carlos na trilha sonora da vida de tantas pessoas. Afinal, minha mãe
não era a única. Todas as amigas também adoravam o “Rei”. Era uma adoração
diferente. A beleza nunca era citada porque o encanto estava na voz e nas
músicas.
Bem mais tarde, quando
li o clássico da boêmia carioca “Noites Tropicais”, do Nelson Motta, percebi
que ele malhava Roberto dizendo que o “Rei” imitava João Gilberto. Depois
admitiu que acompanhou Roberto Carlos em alguns shows, cedeu aos seus encantos e
pediu um autógrafo. Ainda disse que nunca tinha pedido autógrafo de ninguém, mas
com o “Rei” era diferente.
Que poder é esse? Minha
mãe não ignorava e cena musical da década de setenta e anteriores. Gostava da
jovem guarda, ouvia os tropicalistas. Meu pai gostava e cantava os clássicos da
década de 1930 até 1950. Mas ela gostava mesmo era do “Rei”.
Ontem recebi uma
intimação de minha esposa. Nós vamos assistir “à beira do caminho”. O que fazer
em uma hora dessas? Apenas dizer: claro, amor. Que ótimo!
Segui para o cinema um
tanto quanto desanimado. Não tinha muitas expectativas com relação ao filme,
mas fui com o coração aberto. Logo nos primeiros minutos o personagem
principal, um caminhoneiro, se desfaz em lágrimas ao som de... Roberto Carlos.
Incrível!!!
Nunca tinha pensado na
força das letras emocionais do “Rei” para os homens, principalmente para homens
no perfil “machão tradicional”. O filme segue ao som do Roberto e há muitos
momentos emocionantes. Não digam a ela que contei, mas minha mulher chorou o
tempo todo. Eu não chorei porque tenho que manter a minha fama de mau.
“À beira do caminho” é
um filme que fala de emoções vividas por homens rústicos e machões. Não vou
entrar em detalhes porque não sou crítico e nunca serei. Aliás, detesto
críticos de cinema, música e literatura. Detesto alguns acadêmicos também, mas
isso não vem ao caso. Quero apenas indicar a excelente performance de Vinicius
Nascimento, jovem ator que contracena com João Miguel e Dira Paes. O garoto tem
algumas tiradas excepcionais. Vai aprendendo a ser homem com o caminhoneiro
João e, ao mesmo tempo, o ajuda a arrancar do peito a dor que guardava e que só
era liberada, aos poucos, quando ouvia as primeiras estrofes de “Nossa Canção”:
Olhe aqui, preste atenção
Essa é a nossa canção
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer
O nosso amor
Nosso amor!...
Essa é a nossa canção
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer
O nosso amor
Nosso amor!...
O filme é, sem dúvida, minha dica para o final de
semana.