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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Lula e o sapato que voou

Atualmente está na moda descer o malho no PT e em seu maior representante, Luiz Inácio Lula da Silva: o Lula. Parece bastante óbvio que muitas questões relacionadas aos desmandos da Petrobras, aos financiamentos de campanhas, entre outras, ainda precisam ser melhor esclarecidas. Porém, a mim também parece óbvio que, como dizia minha avó: “não se deve jogar a criança fora junto com a água da bacia”.

Faz pouco tempo que eu estava conversando com um amigo de infância que era fã do Lula desde pequenininho e agora tornou-se inimigo declarado. Aliás, agora também pega super bem ser o inimigo numero 1 do Lula. Ele disse, no meio da conversa, uma série de impropérios sobre o Lula, o PT, o Governo, o Bolsa Família, o FIES, o PROUNI, o REUNI, o PRONATEC e lá se foi o papo. Eu preferi deixar para lá. Afinal, bons amigos às vezes deixam a língua correr solta e falam uma série de besteiras sem apresentar nenhum dado.

Ocorre que durante a conversa eu lembrei de um fato interessante. Eu estava em João Pessoa, em uma Van que levava pessoas para os principais pontos turísticos da cidade. De repente entrou uma família inteira. Percebi de imediato que tratava-se de uma família porque todos chamavam uns aos outros pelo grau de parentesco (tia segura isso... tio pega aquilo, prima senta aqui...). Fiquei curioso com aquela família e nem precisei perguntar nada porque após 10 minutos de viagem o patriarca puxou papo e começou a contar a história daquela viagem.

Ele disse que a família inteira planejou a viagem em conjunto. Todos os homens trabalhavam no ramo da construção civil – pedreiros, serventes, marceneiros, etc. As mulheres eram faxineiras, costureiras... Nunca tinham viajado, mas agora - estávamos em 2012 – eles podiam deixar de trabalhar durante 15 dias e viajar para o lugar que desejassem. Perguntei se ele estava gostando do lugar e a resposta veio com um sorriso. Disse-me que estava adorando porque o lugar era bonito e ele finalmente poderia disputar com outro parente.

O tal parente tinha um sapato que já tinha voado. Depois de ter viajado de avião pela primeira vez, seu parente guardou o sapato sem limpar. Ele disse que o sapato ficava em um saco plástico, na estante de casa. Toda vez que acontecia uma reunião familiar, ele provocava os visitantes apresentando o sapato e dizendo: “esse aqui já voou. Você tem um desses para mostrar”. Meu simpático interlocutor estava muito contente porque agora não mais ficaria calado com a brincadeira de seu parente. Ele também iria guardar o sapato com que voou de Minas Gerais para a Paraíba e mostrar para todo mundo nas festas.

Contei essa história para meu amigo vociferante e disse que não devemos esquecer que o Lula – e as políticas inclusivas do PT - colocaram muitos sapatos para voar por ai.


Minha sábia avó diria: não joguemos a criança fora junto com a água da bacia. De minha parte, quero continuar encontrando com os pobres que enchem os aviões e guardam seus sapatos como recordação. Acredito que meu gentil interlocutor não tenha virado inimigo do Lula e do PT.