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Sou um antropólogo brasileiro especializado em temas educacionais. Meus trabalhos focalizam as relações existentes entre a educação escolar e outras esferas da vida social. Atualmente, desenvolvo pesquisas sobre estratégias familiares e projetos de escolarização nas camadas populares das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, ambas no Brasil. A abordagem inclui reflexões sobre a educação básica e o ensino superior. O debate sobre a construção social das juventudes é privilegiado porque permite interpretações refinadas sobre as relações entre educação escolar e expectativas de futuro. Trabalho no Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ onde ensino antropologia e sociologia da educação, além de orientar estudantes interessados no debate entre ciências sociais e educação.

domingo, 11 de março de 2012

Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também...

A canção “somos quem podemos ser”, do grupo "Engenheiros do Hawaii" sempre chamou minha atenção. Na época, década de 1980, havia uma certa “resistência carioca” à banda gaúcha. Em minha opinião, Humberto Gessinger é um dos grandes poetas do Rock Brazuca, mas sua poesia com um toque regionalista não agradava aos cosmopolitismos do sudeste. 

Polêmicas à parte, meu objetivo não é discutir a cena rock brasileira nos anos 1980. Eu utilizei esta frase em sala de aula quando um estudante perguntou sobre os verdadeiros culpados do fracasso da educação brasileira. Foi engraçado porque os alunos mais jovens não entenderam a citação. Tive que explicar, mas acabou fazendo sentido no final. 
Utilizei a frase porque nos últimos anos tenho formado professores e pesquisado em contextos escolares. O fracasso da educação pública no Brasil é um consenso, bem perigoso, diga-se de passagem. Por isso, dedico parte de minhas aulas à problematização da ideia de fracasso e ao debate sobre as hierarquias de desempenho presentes nos sistemas educacionais. Há, em todos os sistemas, processos de segmentação que fazem com que as escolas sejam muito diferentes. Quando falo sobre isso, não consigo fugir da pergunta: mas de quem é a culpa?


Os estudantes, com muita frequência, querem crucificar alguém e este alguém ganha diversas faces no debate. O culpado é o governo, o Banco Mundial, a falta de estrutura nas escolas, os salários dos professores, o nível socioeconômico das famílias e por ai vai. Estas falas também estão presentes nas narrativas de professores, gestores e até mesmo de alguns especialistas em educação. 
Quando utilizei o verso da música, propus um debate sobre responsabilidades individuais. Disse aos estudantes que o problema é mais complexo e que a caça às bruxas ou a busca pela Geni (aquela que é boa de cuspir) atrapalha qualquer reflexão mais consistente sobre educação. É preciso pensar nas responsabilidades do Estado, nas influências internacionais, no salário dos professores, no nível socioeconômico das famílias, mas também nas atividades docentes, nas crenças dos professores sobre a capacidade intelectual dos estudantes, no tempo realmente utilizado para atividades de ensino e nas expectativas dos professores sobre sua própria profissão. 
Minha discussão sobre o suposto fracasso educacional brasileiro também visa chamar atenção dos futuros professores para suas responsabilidades com o ensino. Eles, em geral, não querem ser professores, mesmo estudando em cursos de licenciatura. Esta contradição ilustra a complexidade deste debate. Nestes casos, sempre procuro deixar um recado: a profissão docente tem que ser uma escolha e melhor seria se aqueles que a escolhem, escolhessem com vontade de fazer a diferença nas escolas em que estiverem trabalhando. Somos quem podemos ser, mas também podemos encontrar as chaves que abrem a prisão criada pelo desânimo relacionado à escola e aos sistemas educacionais. Afinal, o melhor professor é aquele que ensina acreditando que todos os estudantes podem aprender. Para isso, é preciso ânimo!
E você, o que pensa sobre a educação e a profissão docente no Brasil? Deixe seu comentário.